Filosofia Política 1
A nunca vista nem ouvida peleja de João Grilo e o Coronel Pereira
Aristóteles - Maquiavel - Karl Marx
Autor: Lindoaldo Campos
(N) - Peço licença aos senhores
Pra fazer a narração
De uma grande peleja
Que se deu lá no sertão
Entre um velho Coronel
De bota, chibata e chapéu
E João Grilo, um sabidão
Deu-se, numa ocasião
"Seu" Malaquias da venda
Mandou João entregar
Uma bonita moenda
Pra fazer caldo de cana
E um cacho de banana
Ao Coronel na fazenda
(J) - Vim trazer a encomenda
Vou chegando lá da feira
(C) - Entre logo, amarelo
Deixe de sua asneira!
Bote aí no pé da porta
Pois a sua cara morta
Já tá dando uma canseira
(J) - Esse Coronel Pereira...
É primeira sem segunda
Homem de muito valor
Chega a educação abunda
Eu lhe trouxe esta banana
E a moenda de cana
Cá em cima da cacunda
Pois sou nau que não afunda
Avião que corta o céu
Carro-tanque pelo morro
Abelha fazendo mel
Tenho consciência crítica
E minha razão política
É "me fazer" de xeleléu
(C) - Ponha-se no seu papel!
Tu estás bestando, João?
Onde é que já se viu
Um matuto ter razão?
É coisa que bem não cabe
De Política tu só "sabe"
Do dia da eleição
(J) - A coisa não é assim não
E lhe deixo esclarecida
A importância do voto
É de todos conhecida
Perdoe, "coronecência"
Pois Política é a ciência
Que conduz a nossa vida
Para o vulgo, ela é tida
Como algo passageiro
Só ligada a eleição
A mutretas, a dinheiro
Mas Política é mais que isso:
Representa o compromisso
De um povo por inteiro
(C) - Eita, amarelo arteiro!
És um grande prosador!
Não negas a tua fama
De "cabra" conversador...
(J) - Não é "lero", meu patrão
Mas, sim, a grande lição
De um grande pensador
Aristóteles, meu senhor
Foi discípulo de Platão
Mas o "mundo das ideias"
Trocou pelo nosso chão
Escritor vasto e fecundo
"Foi-não-foi", o que há no mundo
Teve a sua opinião
Como grande cidadão
De Atenas, onde vivia
Aristóteles escreveu
Com ciência e maestria
Oferecendo à sua cidade
E a toda a humanidade
Provas de sabedoria
O velho Ari já dizia
Hà dois mil anos atrás
Que o homem, sendo justo
É o melhor dos animais
Mas afastado da justiça
É pior do que carniça
Bota a perder os demais
Por tendências naturais
O homem é um animal
Que só vive na cidade
Por instinto social
Procurando o bem viver
Faz leis para proteger
O interesse geral
Fez um plano genial
Sobre as formas de poder:
A Monarquia um só homem
É capaz de exercer
Alguns, na Aristocracia
Muitos na Democracia
Não é difícil entender...
Procurando defender
Um governo equilibrado
Pensou num regime médio
Concluiu que o adequado
É o Poder Constitucional
Onde o chefe principal
É o cidadão honrado
(C) - Eita, "cabra" arretado
Pensa igualzinho a mim
Quando muita gente manda
Só tem resultado ruim
Só presta quando um só manda
Cada qual na sua banda
Cada boi no seu capim
(J) - Coronel, não é assim
É bem outra a lição
Pois a honra de mandar
Pode ser do rico ou não
O importante é o respeito
Ao que é justo e direito
Em qualquer situação
(C) - Coitado, meu caro João
De Política sabes nada
Pois ela tem sua ética
Não está subordinada
À religião ou à moral
Longe do bem e do mal
Nem é certa nem errada
É certeza assegurada
Por vários livros alheios:
O poder é o que vale
Não carece arrodeios
Pra manter a autoridade
É a mais certa verdade:
Os fins justificam os meios
Eu lhe digo sem receios
Anote aí, xeleléu:
A ética e a moral
Têm apenas um papel:
A tomada do poder
Disse isso com saber
Nicolau Maquiavel
Ele fez um escarcéu
Na arte de governar
O Príncipe, seu grande livro
Vou agora lhe explicar:
Não adianta só bondade
Para ser rei de verdade
É preciso dominar
Virtù é a força pra tomar
A Fortuna almejada
Qual seja mulher bonita
Deve assim ser abordada
O príncipe que se enamora
Nem adula nem implora
A coroa desejada
(J) - Mas está ouvindo a zuada
Da moenda funcionando?
Enquanto o nobre proseia
O pobre está trabalhando
O príncipe é ultrapassado
Sem o proletariado
Seu castelo vai minando
(C) - Você tá me provocando
Com toda essa "aresia"?
(J) - Que é isso, meu "cumpade"
Tenha calma, senhoria
Isso é uma explicação
Que nos deu um alemão
Doutor em Economia
Ninguém nega, hoje em dia
Que a Política, como tal
Forma com a Economia
Um par perfeito, ideal
E que a mente se explica
Por aquilo que indica
A base material
(C) - Tu até não falou mal
Pois nossa realidade
É formada por Política
Desde o campo à cidade
Então entra a Economia
E o povo tem o seu guia
Na alta sociedade
(J) - Para falar bem a verdade
A coisa é bem diferente...
Pois observe o senhor
Que o patrão é dependente
De todo trabalhador
Que se esforça, com valor
Pra dar valor a essa gente
(C) - Mas desde que sou vivente
Que assim é o viver:
Uns nascem pra mandar
Outros, pra obedecer
A vida não tem mistério
Do berço ao cemitério
Já se sabe o que vai ser
(J) - Mas não tendo um querer
O homem não tem sentido
Só se torna o que se é
Quando é desenvolvido
É uma questão de ética;
A tal lei da Dialética
Torna rei o oprimido
(C) - Pois saiba que eu duvido
que um matuto banzeiro
Possa ser outra coisa
Do que um tolo "beradeiro"
(J) - É que ainda é escravo
Vivendo como um bicho bravo
Nas furnas do cativeiro
Mas se tivesse, primeiro
Estudo e liberdade
Veria a ideologia
Que encobre a verdade:
Diversos trabalhadores
Sustentam poucos senhores
Com a produtividade
Foi Karl Marx, meu "cumpade"
Aquele que já dizia
A lei do Capitalismo
É a tal da mais-valia
O "menos" que o operário
Recebe do empresário
Por um mísero salário
Virando mercadoria
Com o trabalho de um dia
Só se vive meia hora
É o Capitalismo selvagem
Que o próprio homem devora
Mas vem a revolução
Mudando a situação
Valei-me, Nossa Senhora!
(N) - Então gritou João, pois nessa hora
O Coronel levantou
Deu um fungado medonho
Os olhos abuticou
E gritou com rouquidão:
(C) - Diabo de revolução!
Quem manda aqui, nesse chão
Sou eu mesmo ou não sou?
(N) - Aí "o cancão piou"
Pois então Dona Firmina
A mulher do Coronel
Riscou feito lazarina
(DF) - Manda o quê, vagabundo?
Porque hoje, em todo o mundo
A mulher é quem domina
Tem Dona Leopoldina
Angela Merkel na Alemanha
Também Aldamira Guedes
Indira Gandhi já ganha
Bachelet fez o seu palno
E Alzira Soriano
É mulher que não se acanha!
Homem, largue sua manha
Que o poder se inverteu
Mulher, assuma o trono
Que esse lugar é seu!
Seu "cabra", passe pra dentro
Que hoje aqui, nesse centro
Quem manda mesmo sou eu!
(N) - Grande confusão se deu
Ficou mangando João
O quengo que é mais quengo
De nosso grande sertão
Que, com a Filosofia,
Derruba a hipocrisia
Em qualquer situação
E onde houver um mandão
Querendo escravizar
Homens trabalhadores
Oprimindo seu pensar
É só dizer com alarde:
(Todos) - Prepare o lombo, covarde:
Lá vem João filosofar!!
#FilosofiaNordestina
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