"Será que a cidadania global realmente precisa das humanidades?
Ela precisa de uma grande quantidade de conhecimento factual, e os alunos podem adquiri-lo sem uma educação humanista - por exemplo, absorvendo os fatos em livros didáticos padronizados (...), apenas substituindo os fatos incorretos pelos corretos e aprendendo as técnicas básicas de economia.
Contudo, a cidadania responsável exige muito mais: a capacidade de avaliar as provas históricas, de utilizar os princípios econômicos e de raciocinar criticamente a respeito deles, de avaliar relatos de justiça social, de falar um idioma estrangeiro, de compreender as complexidades das principais regiões do mundo. A parte factual sozinha poderia ser transmitida sem as competências e as técnicas que acabamos associando às humanidades.
Porém, uma lista de fatos, sem a capacidade de avaliá-los ou de compreender como a narrativa foi construída a partir das evidências, é quase tão ruim quanto a ignorância, uma vez que o aluno não será capaz de diferenciar estereótipos grosseiros difundidos por líderes políticos e culturais de verdade, ou afirmações falsas das verdadeiras.
A história do mundo e o conhecimento econômico, então, devem ser humanísticos e críticos se quiserem ter alguma utilidade na formação de cidadãos do mundo inteligentes; e eles devem ser ensinados junto com o estudo das religiões e das teorias filosóficas do direito.
Só então fornecerão uma base útil para os debates públicos que devemos realizar se quisermos cooperar na solução dos principais problemas da humanidade."
Martha Nussbaum. Sem fins lucrativos: por que a democracia precisa das humanidades.
São Paulo: Martins Fontes, 2015, p. 93-94.
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