Estudantes participam de oficinas
na IV Olimpíada Estadual de Filosofia
do Rio de Janeiro - Búzios, 2016
Olimpíadas Filosóficas Uruguaias e Rioplatenses. Uma experiência para levar em conta.
(tradução livre)
Nada
mais antifilosófico do que uma Olimpíada Filosófica. Nada menos questionador,
nada mais individualista nem menos solidário, nada melhor para deter o
movimento filosófico concebido como esse infinito querer saber que não se
acaba, não termina com nenhum saber concreto.
Por
isso, nossa Associação Filosófica do Uruguai discutiu e trabalhou durante um
ano a possibilidade de ressignificar filosoficamente a ideia da “Olimpíada
Filosófica Internacional” (IPO, International Philosophy Olympiad, iniciada em
1993 na Bulgária), para organizar Olimpíadas Filosóficas Uruguaias em nosso
país, e Rioplatenses, com nossos colegas da Argentina.
O
modelo elaborado transforma a Olimpíada em um jogo que permite consolidar e
aprofundar movimentos [movidas] filosóficos juvenis em nível local, zonal nacional
e regional. Demarca-se por uma concepção democrática da filosofia e de seu
ensino que propõe filosofar a todos, propõe que todos filosofem. Estimula atitudes filosóficas, propõe desenvolver
conceitos filosóficos, fomenta
diversas atividades filosóficas. Utilizando basicamente as quatro clássicas
“macrohabilidades” intelectuais (escutar, falar, ler, escrever) articula a
reflexão pessoal com debate em grupos e produções pessoais e coletivas. Tem em
vista uma transformação filosófica de toda a educação, (uma educação que
habilite a pensar autonomamente, a duvidar, a criticar, a criar, a debater
racionalmente) iniciando pela “filosofização” do próprio ensino da filosofia.
As
Olimpíadas Filosóficas Uruguaias se desenvolvem desde 1999. Incluem
necessariamente oficinas de estudo e discussão e a produção de trabalhos
escritos; às quais costuma-se agregar atividades criativas (exposições, música,
pintura, teatro, etc), recreativas e de convivência.
A
atividade se centra a cada ano em torno de um problema. Em seus primeiros anos se
consideraram esses problemas: “É possível uma sociedade justa?”, “Que paz é
desejável?”, “Civilização universal ou culturas nacionais?”, “Para que
educar?”, “Exercícios de poder; práticas de liberdade”, “O futuro: é ou se
faz?”.
Elabora-se
um documento para professores em que se apresenta de modo problematizador a
questão e se explica o funcionamento das atividades. Põe-se à disposição dos
docentes que desejem desenvolver a experiência em distintas localidades um
arquivo com textos selecionados, sugestões didáticas e bibliografia.
As
atividades de difusão da ideia culminam em uma jornada de lançamento da
Olimpíada, que inclui oficinas de discussão e de escrita. Durante o ano letivo,
organizam-se atividades “préolimpícas” que se desenvolvem livremente sob a
responsabilidade e iniciativa de cada professor. Consistem em oficinas de
investigação e discussão entre os jovens, atividades criativas e de
convivência, interação com professores especialistas (conferências, painéis, entrevistas...),
etc. Essas tarefas se realizam no desenvolvimento normal dos cursos de
filosofia, de maneira extracurricular ou combinando ambas. Também houve
experiências exitosas de intercâmbio entre distintas localidades.
A
Olimpíada propriamente dita se realiza próximo do final do ano letivo em forma
simultânea em todo o país. Consiste em duas partes. Na primeira, formam-se
grupos de discussão coordenados por um docente, que debatem durante uma ou duas
horas a partir de uma proposta única de caráter nacional. A ideia é enfrentar
com todos os participantes o problema a partir da “necessidade comum de superar uma
dificuldade desde diferentes pontos de vista” e não desde a “ânsia de cada um
de ganhar, impondo sua solução ao outro”. Na segunda atividade (também a partir
de um “disparador” único para todo o país), cada participante dispõe de três
horas para escrever sua reflexão pessoal levando em conta o que foi debatido
previamente em grupo.
Não
há etapas de seleção. Os trabalhos escritos são lidos e avaliados de acordo com
pautas prefixadas por tribunais locais que selecionam uma frase de cada
trabalho para a posterior publicação de um livreto enriquecido com a
contribuição de todos. Os trabalhos considerados mais valiosos são remetidos a
um júri nacional que escolhe os nove melhores para que seus autores
participem das Olimpíadas Rioplatenses, com outros tantos jovens da Argentina.
Estimula-se a publicação dos melhores trabalhos tanto locais como nacionais.
As
Olimpíadas Filosóficas Rioplatenses se realizam em Colonia del Sacramento.
Regem-se por duas máximas: “Ousa pensar por si mesmo!” (Kant) e “A discussão
para triunfar deve ser proscrita da aula de filosofia” (Vaz Ferreira). Os
professores organizadores de ambos os países chegam a um acordo para a consideração de um problema
em comum e de um número reduzido de materiais. Uma Comissão Binacional estabelece as
propostas para a parte oral e escrita. Os jovens realizam atividades de
confraternização e elaboram uma declaração conjunta. Um Júri Internacional
avalia os ensaios, que se espera que sejam publicados.
O
impacto positivo das Olimpíadas concebidas desse modo deve ser pensado no
contexto do desenvolvimento de uma educação filosófica capaz de colaborar na
transformação da educação e na criação de espaços públicos desde onde seja
possível uma participação cidadã plena.
Para
que as Olimpíadas Filosóficas estejam em condições de contribuir para tais
finalidades, é preciso depurá-las dos componentes elitistas eventuais que podem
acompanhá-las, o que é parte do esforço necessário para democratizar a
filosofia, fazendo dela uma atividade para todos, porém não por isso menos
exigente e sólida, mas pelo contrário uma condição para a formulação e o
tratamento radical dos problemas que são requeridos pelo momento atual, quer
dizer, para filosofar a democracia.
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