Filosofia e Senso Comum: Inútil? Útil?
[Adaptado de: Marilena Chauí. Convite à Filosofia. Ed. Ática]
Na Alegoria da Caverna, o prisioneiro que é libertado e conhece o mundo do lado de fora da caverna adquire uma visão mais ampla da realidade do que seus companheiros que permaneceram presos. Porém, quando ele volta à caverna, não consegue comunicar de modo compreensível o conhecimento que adquiriu, sendo considerado ridículo, louco e até ameaçador. Sua experiência fora da caverna é considerada inútil e mesmo perigosa. Essa situação retrata a relação da Filosofia com o Senso Comum.
Como podemos pensar essa relação?
De certo modo, o primeiro ensinamento filosófico é perguntar:
O que é o útil? Para que e para quem algo é útil?
O que é o inútil? Por que e para quem algo é inútil?
O Senso Comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações, identificando utilidade e a famosa expressão “levar vantagem em tudo”. Desse ponto de vista, a Filosofia é inteiramente inútil e defende o direito de ser inútil.
Não poderíamos, porém, definir o útil de outra maneira?
Vejamos como diversos filósofos conceberam a Filosofia:
Platão definia a Filosofia como um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres humanos.
Descartes dizia que a Filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a conservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes.
Kant afirmou que a Filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer e o que deve fazer, tendo como finalidade a felicidade humana.
Marx declarou que a Filosofia havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo e que se tratava, agora, de conhecê-lo para transformá-lo, transformação que traria justiça, abundância e felicidade para todos.
Merleau-Ponty escreveu que a Filosofia é um despertar para ver e mudar nosso mundo.
Espinosa afirmou que a Filosofia é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade.
Qual seria, então, a utilidade da Filosofia?
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil;
se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil;
se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil;
se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil;
se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil,
então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.
Com base nessas reflexões, responda:
De que modo o prisioneiro que foi libertado e voltou à caverna poderia explicar para seus companheiros o valor do conhecimento que ele adquiriu?
Qual explicação os prisioneiros entenderiam e aceitariam?
Nenhum comentário:
Postar um comentário