terça-feira, 15 de março de 2016

Etimologia de "Aluno"

CASTELLO, Luis A.; MÁRSICO, Claudia T. Oculto nas palavras. Dicionário etimológico para ensinar e aprender. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

Na Seção “Quem estuda?”, há, além de 'aluno', diversos outros verbetes: Aluno; Adolescente; Discípulo; Criança, Infante; Pueril; Estudante; Educando; Colegial; Ouvinte; Menor; Aprendiz; Seminarista; Estagiário; Bacharel.

 Selecionei abaixo os seguintes trechos:

Aluno: "Em geral, chamamos ‘aluno’ ao sujeito que estuda no âmbito de uma instituição. O termo foi, curiosamente, objeto de uma explicação etimológica disparatada que o faz derivar de um suposto a, ‘não’ – remetendo a um alfa privativo próprio do grego – e lúmen, ‘luz’. Aluno seria ‘o que não possui luz’, ‘o que está no escuro’, e que, portanto, busca “iluminar-se” mediante o estudo. Essa explicação, decerto, não resiste à menor análise histórica ou linguística. Basta pensar que teria de se tratar de um composto híbrido que apresentaria uma raiz puramente latina, lúmen, unida a um prefixo privativo grego a-. A rigor, o termo ‘aluno’ está aparentado semanticamente ao verbo educar [cf. verbete abaixo]. Viu-se que uma das etimologias ligadas à ideia de educar se relaciona com ‘alimentar’. Não é de se estranhar, então, que aquele que recebe o alimento seja o ‘aluno’. Precisamente essa é a acepção do termo latino alumnus, que, assim como alimentum, está formado a partir da raiz al, encontrado no verbo alere, ‘alimentar’. Alumnus tem, pois, uma primeira acepção de ‘criança’, literalmente ‘o que é alimentado’, e outra derivada e abstrata que ganha o sentido de ‘discípulo’. [cf. verbete abaixo] (...)"

 Verbetes referidos no anterior, trechos selecionados:

Educar: "(...) o campo semântico de educare é, em parte, equivalente ao do grego tréphein, em cuja evolução, sempre que se tomeeducare como derivado de edo, também se observam significativas semelhanças. Tréphein é, em sua origem, ‘espessar’, e daí ‘coagular’, ‘coalhar’. Com esse sentido concreto subsiste ainda na época clássica sob o conceito genérico de ‘criar’, ‘nutrir’, desenvolvido a partir de ‘engordar’, ‘alimentar’. Foi assim que, por graduais translações de sentido, passou a significar plenamente ‘educar’, ainda que nunca viesse a ser o termo típico para referir-se ao que hoje entendemos por educar e permanecesse o mais ligado ao âmbito de criação de crianças. (...)"

 Discípulo: "Dissemos que alumnus, ‘aluno’, em sua segunda acepção, equivale a discipulus, ‘discípulo’. O último termo tem uma raiz certa e reconhecida no verbo discere que significa ‘aprender’. Assim, o ‘discípulo’ é ‘o que aprende’, ‘o aluno’, ‘o aprendiz’. Também se propôs a etimologia de discipulus como um composto de discere e da raiz que dá lugar em latim a puer, ‘criança’, e em grego a paîs, ‘criança’, e a polos, ‘filhote’, com o que se salientaria a relação entre a aprendizagem e a infância. (...)"