quarta-feira, 10 de abril de 2019

Coleção Filosofia em Cordel no. 11 - Lindoaldo Campos

Filosofia Política 2
O fabuloso triálogo de João Grilo, o Prefeito Tomás e Lúcio Mata Borrão
Platão - Hobbes - Locke - Rousseau - Montesquieu
Autor: Lindoaldo Campos

(N) - Peço a todos os amigos
Derradeira permissão
Pra narrar a última história
Desta nossa coleção
Pra falar de forma crítica
De novo sobre Política
Noutra grande confusão

Num ano de eleição
No dia da votação
Lá estava o "quengo" João
Na praça, sentado em paz
Foi quando um estrupício
De fogos de artifício
Não lhe deixou dormir mais

Vinha o Prefeito Tomás
Candidato à reeleição
Com seu "chaleira" chamado
Lúcio Mata-Borrão
(P) - Fique sabendo, João Grilo
Esse ano estou tranquilo
A política está na mão!

(L) - Já é nossa a eleição
E fica a advertência:
Na política deste ano
Lascou-se a concorrência!
(J) - Mas Política é uma ciência
E não pode ser partida
E também é convivência
Com respeito e decência
Em todo instante da vida

Já nasceu comprometida
Com toda diversidade
Pois Política vem de pólis
(Que, em grego, é cidade)
Onde todos somos um
Na busca do bem comum
De nossa sociedade

(L) - Olha só a autoridade
Com que fala a "realeza"...
(P) - Mas falou uma verdade:
Todo homem tem grandeza
(como dizia Platão)
Quando é um cidadão
Cumprindo bem a função
Que lhe deu a natureza

A cidade tem firmeza
Se nossa alma copia
Alma que tem três partes
Que lutam por primazia:
Apetitiva (quer gozar)
Irascível (quer brigar)
Racional (sabedoria)

Pois bem: a cidadania
Ocorre de forma igual
Tem a Classe Econômica
(Apetite é seu sinal)
Depois vem a Militar
(Com coragem sem igual)
Por fim, vem a Governante
Em que a parte dominante
É a parte racional

A harmonia total
Pra uma cidade inteiriça
É quando não há impasses
E cada uma dessas classes
A uma virtude é submissa:
A primeira, à temperança
A outra, à perseverança
A terceira, à justiça

Sendo assim, não há cobiça
Cada um tem seu papel
(J) - Um nasce pra ser senhor
Já outro pra xeleléu...
(L) - Cada qual na sua via
Viva a Democracia
Liberdade a granel!

(P) - Liberdade é um troféu
Mas excesso é anarquia...
(J) - E quando alguém aproveita
Engana o povo e o sujeita
A uma cruel Tirania
(L) - É por isso que a "negrada"
Deve "de ser" governada
Por quem tem "deplomacia"

(J) - Sofisma e demagogia
Não fazem bem à cidade
O tirano é um escravo
De sua própria vaidade
E o sofista é um babão
Que lhe vende a opinião
Sem procurar a verdade

Por isso, a melhor cidade
É onde tem Sofocracia
(Sophos = sábio / kratos = poder)
(Força com sabedoria)
Pra Platão essa é a lei:
O filósofo é o rei
E o saber é o seu guia

(P) - Mas se ele tem sabedoria
Por que sentiu a vontade
De expulsar os poetas
De sua justa cidade?
(J) - Por pensar na qualidade
Do ensino pra juventude
Mas só dispensou os vates
Cujos falsos disparates
Não educam pra virtude

(L) - Grilo, ninguém se ilude
Com essa tola utopia
Naturalmente egoísta
O homem vive em porfia
É o "estado de natureza":
Competição, agonia
"Guerra de todos contra todos"
Sem um poder que o dome
"O homem é o lobo do homem"
Na luta do dia a dia

(P) - Porém, Hobbes anuncia
Que hoje há garantia
Do contrato social
Onde a gente renuncia
À força individual
Em favor de um soberano
Que traça e conduz o plano
De um poder colossal

É o Estado Nacional
Que por todos é formado
Seu poder é absoluto
Não pode ser questionado
Mantem todos em respeito
Faz as leis, diz por direito
O que é mais adequado

Leviatã, como é chamado
Qual o monstro da Escritura
Grande, forte, poderoso
Invencível criatura
É total, sem divisão
Está sempre com a razão
E o bem comum assegura

(J) - Mas isso é ditadura
E o poder não é de um rei
Ele é da comunidade
Em Locke eu estudei
É o Estado de Direito
Onde vale este preceito:
Ninguém está sobre a lei

(P) - Ora, isso eu também sei
Liberalismo é demais!
Pois defende com vigor
Os bens individuais:
Pois a vida, a liberdade
E nossa propriedade
São direitos naturais

Tudo o que o Estado faz
É somente assegurar
À sociedade civil
Liberdade mercantil
Para bem comerciar
A lei do mercado vai ser
Laissez faire, laissez passer
(Deixai fazer e passar)

(L) - Nessa linha de pensar
Apareceu, outro dia
O Neoliberalismo
Rezando o seguinte guia:
Privatizações, por um lado
Liberdade de mercado
Trazendo o setor privado
Para toda a economia

(J) - Porém, essa ingresia
Já sentiu a decadência
Pois o povo exerceu
O direito à resistência
Pois um governo sem jeito
Que não garante o respeito
Do que é justo e direito
Não merece obediência

Além disso, violência
Não combina com pureza
O homem não é egoísta
Mas é bom por natureza
Então, vem a sociedade
Com a ideia de riqueza
Competição, fuleiragem
E, assim, o bom selvagem
Fica entregue à safadeza

(P) - Mas não negue a grandeza
Do progresso, da cidade...
(J) - Nego nada, nego não
Quem sou eu, por caridade...
Pois Rousseau não ignora
A importância da verdade
Só é contra o pensamento
Que tem tanto enredamento
Que até mata a integridade

E diz, com sinceridade
Que a arte e a ciência
Nasceram de nossos vícios
Da soberba, da insolência:
Da Física, a existência
Vem da feia indiscrição
Da tola superstição
A Astronomia nasceu
E a Eloquência cresceu
Graças à adulação

(L) - Todos "de quatro", então
A solução é "animal"
(J) - Nesse caso, não se esforce...
Mas é outro o ideal:
Recuperar a virtude
Pra gozar de plenitude
De um mundo fraternal

Eis a vontade geral
Onde egoísmo não há
É o interesse comum
Que vence o particular
Isso vem da instrução
Pois somente a educação
Pode o homem humanizar

(P) - João, em mim tu vai votar
Para secretariar
Minha administração
Tens o espírito das leis
De nossa circunscrição
E já diz Montesquieu:
Governar é conhecer
Questões territoriais
Costumes, regras morais
De cada população

Há três tipos de gestão:
A República tem valor
O Despotismo, temor
Monarquia, distinção
(L) - Mas e a Democracia?
(J) - Corrompe-se, se o plano
De um candidato a tirano
É comprar a eleição

Por isso, a solução
Para o abuso de poder
É sua separação
A cada qual um afazer:
Legislativo - regular
Executivo - governar
Judiciário - julgar
Com vigor e com saber

(P) - Mas se governar é reger
O Poder Executivo
É quem manda no "traçado"
(J) - Nenhum deles manda mais
Pois um controla os demais
Mas também é controlado

Cada qual é destacado
Para uma serventia
Mas freios e contrapesos
São rédeas à autonomia
São regulamentações
Interligando as funções
Para terem harmonia

O Executivo envia
Planos ao Legislativo
O Executivo governa
Mas da lei é um cativo
... Mas valei-me São Gaspar
Que o Judiciário vem julgar
O chefe do Executivo!

(N) - Nessa hora, bem altivo
Já dando "voz de prisão"
Chegou o Juiz Feliciano
Junto a meio batalhão
(F) - Está preso, "seu" Tomás
E Lúcio Mata-Borrão
Por fazer "boca de urna"
Bem próximo à votação
E ainda eu anoto:
Por tentar comprar o voto
Deste nobre cidadão

(N) - Instalou-se a confusão
Juntou logo muita gente
Mas tudo foi sossegado
E todos dão um recado
Sábio e conveniente:
(Todos) - Estudem, leiam, discutam
Mas de forma inteligente
Isso aqui foi só pilhéria
Mas Política é coisa séria
Pois é a vida da gente!

Política é uma ciência
Observa a convivência
Levando, com consciência
Ímpeto ao bem geral
Todos juntos nessa via
Ideal do dia a dia
Construindo, em harmonia
A concórdia universal



#FilosofiaNordestina

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